quarta-feira, 29 de abril de 2009

"A Sangue Frio" e o nascimento do New Jornalism


A ideia de A Sangue Frio surge quando Truman Capote vê-se diante de um texto impresso no jornal The New York Times, onde era descrito o inexplicável assassinato de uma família de quatros pessoas na área rural do Kansas, nos Estados Unidos.

Capote agarrou-se de tal maneira à chocante história que foi ao estado não para escrever apenas mais um artigo sobre o fato, mas sim um livro inteiro (publicado primeiramente em quatro capítulos na revista The New Yorker). Pesquisou sobre a histórias durante seis anos, sem escrever uma linha sequer, e, ao publicá-la foi aclamado por ter inventado um gênero literário: o romance de não-ficção.

Anos depois, Tom Wolfe (The Electric Kool-Aid Acid Test, 1968) e seus companheiros incluiriam o título em seu próprio movimento, conhecido como 'New Jornalism' (no Brasil chamado de Jornalismo Literário).

À mais de 40 anos desde sua publicação, o radicalismo de A Sangue Frio é muito menos impactante; mas o livro continua sendo uma grande obra por descrever com riqueza de detalhes tanto o crime em si e seu desfecho, quanto os personagens envolvidos. O fato tomou então a forma de um romance ficcional, com narrador, introdução seguida de um breve desenrolar da trama, clímax e resolução. Os eventos que envolvem a morte da família Clutter formam a linha narrativa central.

Capote acreditava que o jornalismo era altamente subestimado e pouco explorado no meio literário, e que o jornalismo e a reportagem poderiam integrar-se à uma nova e importante forma de arte.

Publicado em 1965, A Sangue Frio mostrou aos jornalistas que era possível usar dos artifícios de uma técnica de redação criativa sem fugir dos termos e regras básicas de um texto jornalístico; algo visto hoje não só em livros mas também em revistas e jornais. Essa técnica, comum no exterior, tem sido, porém, pouco usada na imprensa brasileira nos dias de hoje. Atualmente, muitos veículos impressos vêem esse estilo como um dos pontos cruciais para manter seus leitores cativos.

Se escrito hoje, A Sangue Frio provavelmente não seria publicado sem significativas mudanças.Veracidade tem se tornado um dos elementos cruciais quando misturamos narrativa criativa e jornalismo.( Ao final do livro, Capote integra cenas e personagens que nunca existiram, segundo documentos oficiais.).

Os estudantes de jornalismo devem aprender um estilo de narrativa que vá além dos modelos e padrões. E nesse processo posso indicar o best-seller de Capote como um dos degraus de aprendizado.


Catharina Guadalupe

Foto: Irving Penn


Links:

domingo, 26 de abril de 2009

Balzac e a introdução de jornalismo de mercado

Não é de hoje que muitos escritores atuam nas redações de diversos jornais e muitos jornalistas se lançam na carreira literária. Por diversos motivos: capacidade intelectual, necessidades financeiras ou até mesmo pela visibilidade trazida pelos meios de comunicação. Os motivos e razões são diversos e vão de acordo com o pano de fundo contemporâneo de cada um.
No entanto, essa relação não cria barreiras, acaba contaminando produtivamente ambos os ofícios (ver entrevista Marçal Aquino). Mas em nenhum outro escritor, essa relação causou tanto impacto como em Honoré de Balzac (1799-1850).

Balzac nasceu em Tours, França. Mudou-se para Paris com a família em 1814. Formou-se em direito em 1819. Estagiou por apenas três anos, revoltou-se com a influência que o dinheiro tinha no andamento da justiça e decidiu seguir carreira de escritor.

E o que o jornalismo tem a ver com isso? Bom, vamos entender como andava o mesmo naquela época.

Graças aos ideais da Revolução de 1789, a França tinha um papel fundamental na expansão de ideias por todo o mundo. Papel preponderante da imprensa. Porém, já no começo do século XIX, a imprensa começa a ser vista como mercadoria.

Frustrado em muitos sentidos da vida, sem dinheiro, mas dotado de uma boa capacidade de observação e uma veia sarcástica impressionante, Balzac, tido para muitos como o pai da Sociologia, nomeia sua obra de “Comédia Humana”, dividindo-a em três partes.

Na primeira parte é onde encontramos a obra mais trabalhada de Honoré. Nomeado de “Ilusões Perdidas”, o romance faz uma dura crítica ao jornalismo da época.

A obra trata dos esplendores e misérias de um poeta provinciano Lucien de Rubempré, que, em Paris, obtém sucesso somente quando entra para o jornalismo, mas cai em desgraça em boa

parte pelos próprios poderes ambivalentes da imprensa.

Segundo Rónai, que assina o a nota introdutória da primeira tradução do Brasil “A parte mais importante do livro é o segundo episódio, as vicissitudes de Luciano em Paris, onde ele passa por uma serie de ambientes. O [ambiente] dos jornalistas é aquele que leva Balzac a usar traços mais incisivos e as cores mais fortes, e lhe transforma as paginas numa sátira virulenta.” (Rónai, 1978, p.9). Em seu estudo sobre a obra, Bruno Gaundêncio relata que o romance focaliza o jornal em estado nascente, e traça uma analise financeira da indústria editorial, bem como do fenômeno da grande imprensa e das ficções de massas. “Além dos jornalistas, chamados de “negociantes de frases” e “espadachins das idéias e das reputações” há uma descrição rigorosa no livro de vários tipos de livreiros, contratos, tráficos de influência, sistemas de benesses e modos de oscilação dos preços do prestígio pessoal”, observa Bruno.

Balzac via o jornal como instrumento de vinganças pessoais, comprometimento político-partidário, interesses econômicos, amizades, etc. Em suma, de uma maneira maniqueísta, ele passa para ficção uma imprensa em pleno desenvolvimento que por estar aliada ao capital financeiro muitas vezes abandonava o interesse público. Algo que se tornou um costume e continua maltratando a ética na atual conjuntura do “jornalismo mercadoria”.



Texto e foto: Adriano Panisso

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Daens, um grito de Justiça (Daens)

Dirigido por Stijin Coninx, "Daens - um grito de Justiça", indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 1993, conta a história real do Padre Daens (Jan Decleir), um homem que luta por justiça social na Bélgica do final do século XIX.

Enviado para a cidade de Aalst, no interior do país, Daens vai viver com seu irmão, um jornalista. Na cidade, depara-se com uma situação de miséria e exploração da classe operária: mulheres e crianças trabalhando em turnos de longa duração, recebendo salários irrisórios, em péssimas condições de trabalho (logo no início do filme há uma impactante cena que mostra a morte de uma criança dentro de uma fábrica).

Indignado, o Padre utiliza-se do jornal do Partido Católico para relatar essas agruras e divulgar ideias a fim de incitar as massas trabalhadoras a batalhar por condições dignas de trabalho e existência, além de propor o sufrágio universal, implementando um Estado democrático e justo.

Na defesa dessas ideias, Daens incomoda os industriários da época e a própria Igreja, aliada a eles. Passa, então, a ser perseguido.

Situado numa época de ampla divulgação de ideias dentro do jornalismo e de fortes mudanças na estrutura política, o filme retrata o surgimento dos jornais políticos, a utilização da imprensa como agente de mudanças sociais, a rivalidade entre ideologias políticas e o surgimento da Social Democracia, que prega a igualdade de oportunidades, ao invés da igualdade de fato pregada pelo Socialismo.

Além de uma narrativa envolvente aliada a uma fotografia seca e planos corretos, o filme conta com diálogos que sintetizam as questões da época e atuação sensível e consistente de Jan Decleir como o agoniado e determinado padre Daens.



Na foto acima, o verdadeiro padre Daens. Foto retirada do site: http://www.aalst.be/



Danilo Thomaz

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O Tifis de Caneca


A Independência brasileira foi declarada em 1822, porém a dominação de Portugal se estendeu durante um período muito longo no país. Após a declaração, Dom Pedro I ficou na antiga colônia para, teoricamente, defender os ideais brasileiros. Na verdade, auxiliou mais Portugal do que o Brasil.

Nesse período, em que o Brasil tinha como representante um português, Frei Caneca edita seu jornal, o Tifis Pernambucano. O periódico circulou apenas de 1823 a 1824, mas teve grande importância nessa discussão sobre o “Brasil independente”.

Segundo a professora Cida Ruiz, que ministra aulas de roteiro para teledramaturgia, história do Jornalismo e orienta os projetos de TCC no curso de Rádio e TV da Universidade Metodista, as atividades daquela época tiveram grande importância com o jornalismo de ideias “Na região do Nordeste, que era de grande relevância para o país naquela época, os jornais contestaram o autoritarismo de Dom Pedro e o acusaram de ceder regalias a Portugal”, conta Cida.

O primeiro exemplar do Tifis Pernambucano, o jornal de Caneca, foi lançado no natal de 1823 com a notícia da dissolução da Assembléia Constituinte. Dom Pedro I criou a Constituição de 1824, onde deixava claros os propósitos liberais, mas também dava direito ao príncipe de se mostrar.
“Nessa época foi criado o quarto poder, o Moderador, onde Dom Pedro I tinha direitos como o Judiciário, o Executivo e o Legislativo”, diz Cida.

Frei Caneca, após escrever suas críticas ao governo no Tifis, se juntou a Confederação do Equador, que lutava contra a dominação do império. Nesse movimento ele encontrou seu fim.

Foi interrogado e acusado de disseminação de déias contra a boa ordem. Acabou morto em 13 de janeiro de 1825, com tiros de fuzil, após três pessoas se recusarem a enforcá-lo e um soldado passar mal antes do fuzilamento.




Carlos Ferreira

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Folhetim: último capítulo


Como a história se desenrolou no Brasil e onde estão os folhetins nos dias de hoje.





Como foi dito quarta-feira passada, os folhetins surgiram na França no século XIX e se caracterizavam por serem pequenos trechos de romances ou contos que no final de cada capítulo deixavam ganchos, para que o leitor continuasse a acompanhar a história.

No Brasil, eles surgiram pouco tempo depois de estabelecidos na Europa, com o intuito de fazer a população ler e comprar mais jornais. Eram publicados diariamente em periódicos por todo o império, fazendo com que as tiragens aumentassem exponencialmente e que autores brasileiros tivessem uma maior visibilidade e prestígio junto à população. Tanto é que José de Alencar, Machado de Assis, Lima Barreto, Joaquim Manuel Macedo e vários outros tiveram suas principais obras publicadas em jornais antes de virarem livros (A Moreninha, de Joaquim Manuel Macedo foi o folhetim mais popular na história do Brasil).

Com o advento de novas mídias de comunicação, cultura e entretenimento, os folhetins foram deixados de lado pelos jornais e incorporados a esses novos meios. O rádio, por exemplo, começou a dramatizar a dramatizá-los, criando assim as radionovelas. Já a televisão buscou na linguagem folhetinesca aspectos que pudessem ser utilizados no formato televisivo, como os ganchos no final dos capítulos e a abordagem de temas populares e polêmicos.

Atualmente o gênero continua dando muita audiência nas telenovelas e seriados de TV. Outro fato curioso é que os livros que se aproveitam dessa idéia e são publicados em vários volumes, popularizam-se cada vez mais e ganham um grande espaço nos cinemas, como é possível observar na trilogia Senhor dos Anéis de J.R.R Tolkien, na saga Harry Potter e na série Crepúsculo, o novo fenômeno teen.

Enquanto esse formato ganha mais e mais admiradores em outros meios, os jornais perdem leitores todos os dias. Seria sensato olhar para trás e ver como os folhetins ajudaram os periódicos diários a saírem de tempos difíceis e tentar incorporá-los às suas páginas, com uma nova roupagem, para ver se conseguimos mais uma vez prolongar existência desse meio de comunicação que vem resistindo há mais de dois séculos.

Gustavo Chiodetto

Imprensa Capital



Estruturada desde o início pela produção e comercialização capitalista, a imprensa acompanha e está sujeita às oscilações de mercado e o surgimento de novas tecnologias. O jornal impresso sente na pele esses efeitos. Com a atual crise vêm caindo o número de anúncios em suas páginas, uma de suas principais fontes de renda. Isso, atrelado à migração do público-leitor para a internet, o que fez diminuir o número de exemplares vendidos nas bancas, foi o empurrão que faltava para que alguns jornais como Seattle Post-Intelligencer, Christian Science Monitor, Rocky Mountain News fechassem suas portas.

A internet permite a propagação de informações com maior velocidade, simultaneidade e exclusividade. Mas, por enquanto, tem comprometido alguns princípios de base do jornalismo, como uma apuração mais aprofundada das informações, melhor elaboração dos textos e maior interpretação do assunto. Isso é provado por uma enorme quantidade de erros encontrados com freqüência nos sites de informação. Também está em pauta a discussão sobre uma visível característica dos blogs: o estreitamento de opinião, ou seja, tanto o leitor quanto o autor priorizam idéias compatíveis com as deles.

Sendo o individualismo uma característica marcante do sistema capitalista e sendo esse sistema o que originou e rege a imprensa, ele influencia diretamente o modo que a sociedade capta e digere as informações por meio de novas tecnologias. No século XV a tipografia na Europa permitiu a leitura e o raciocínio individual, ao contrário do que acontecia antes com as leituras coletivas dos livros manuscritos. Esse fenômeno equipara-se ao que ocorre hoje. Por meio da internet que permite, através dos blogs, uma visão mais individualista, o leitor vai diretamente ao que lhe agrada e não se interna com outras versões e opiniões da mesma história. Dessa forma, a tecnologia criada pelo capitalismo intensifica as características dele e o sistema serve-se de suas próprias invenções para, mais uma vez, influenciar diretamente os caminhos da imprensa.


Foto retirada do site: http://aeinvestimentos.limao.com.br/imagens/materia/financas/queda_materia.gif


Tamires Teo

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Observador e o Intérprete

Foto por Lorena Martins


Marçal Aquino
nasceu em Amparo, no interior paulista, em 1958. Como jornalista, trabalhou nas redações de "O Estado de São Paulo" e do "Jornal da Tarde". Publicou, entre outros livros, os volumes de contos "Faroestes" e "Famílias terrivelmente felizes", além do romance "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios". Atuou como roteirista em filmes como "Os matadores", "O invasor", "O cheiro do ralo" e "Cabeça a prêmio". Em 2009, recebeu o Prêmio Shell de Dramaturgia pela peça "Amor de servidão", escrita em parceria com Marília Toledo.

Na entrevista, concedida por e-mail, o jornalista e escritor fala, dentre outras coisas, do orgulho de ter feito parte do Jornal da Tarde, um templo do New Journalism no Brasil entre os anos 70 e 80, da influência do jornalismo em sua literatura e da diferença entre seu olhar de jornalista e seu olhar de escritor.


***



Como jornalista, você sempre trabalhou em veículos de mídia impressa. A opção pelo trabalho nesse meio foi uma maneira de estar mais próximo da literatura?

Marçal Aquino –
Descobri cedo que queria ser escritor - e também descobri cedo que isso não é profissão. Então me inclinei para o jornalismo, com foco exclusivo na mídia impressa, porque meu negócio era escrever.

Quais as mudanças mais significativas ocorridas no jornalismo da época em que você atuou em redações para os dias de hoje?

Marçal Aquino – O texto nos jornais me parece hoje mais telegráfico, despido de qualquer adereço - salvo as honrosas exceções de sempre. Ou seja, são textos que, embora muitas vezes assinados, não possuem uma marca distintiva clara. Vejo uma espécie de homogeneidade. E colunas, muitas colunas.
E a literatura brasileira? Como ela se caracteriza neste início de século XXI?


Marçal Aquino – Acho que há uma série de escritores que estão fazendo uma espécie de registro imediato da degradação que nos cerca. Com uma ou outra exceção, o realismo reina.


Você trabalhou na redação do Jornal da Tarde, considerado um templo do New Journalism (aqui chamado de Jornalismo Literário) no Brasil. Como foi essa experiência?


Marçal Aquino – Foi uma experiência maravilhosa, sobretudo porque convivi (e aprendi muito) com nomes legendários do jornalismo brasileiro. Gente como Ivan Angelo, Fernando Portela, Marcos Faermann, Percival de Souza. Quando repórter, eu era incentivado pelo meu editor a dar um tratamento literário à narrativa noticiosa. Havia também aquele culto à imagem, que permitia ao jornal edições magníficas. Tenho muita saudade daquele tempo. Durante o dia, eu escrevia com fé de peregrino um romance - que, afinal, nunca saiu - e à noite ia pra redação trabalhar na edição de um jornal que dava orgulho ver na banca no dia seguinte.

Pode-se considerar o New Journalism uma forma de literatura? Ou seria simplesmente o jornalismo influenciado pela linguagem literária?

Marçal Aquino–
Da maneira como é definido por gente como Gay Talese, Norman Mailer e Tom Wolfe, é o momento em que o jornalismo se permite contaminar pela literatura de modo pleno. Houve até anti-narrativas, como é o caso daquele artigo do Talese sobre o Frank Sinatra. Acho uma boa maneira de definir o negócio. É um jornalismo que não almeja ser literatura, apenas se permite enunciar de forma literária.

A temática urbana, a concisão narrativa e de linguagem, características marcantes de sua obra, advêm de seu trabalho como jornalista?

Marçal Aquino –
Certamente meu trabalho de jornalista, tanto como repórter quanto como redator, influenciaram a minha literatura. A concisão e a maneira de olhar devem algo ao jornalista.


De que maneira a linguagem jornalística e a literária podem se dialogar melhor nos dias de hoje?

Marçal Aquino –
Se falarmos da mídia impressa, com os jornais em papel perdendo cada vez mais público para a internet, uma saída seria valorizar-se com bons textos, boas coberturas, reportagens que fugissem à mera cobertura do dia-a-dia. Isso seria um diferencial que não é encontrado na internet. E o tratamento literário dos textos jornalísticos certamente seriam uma atração, enfatizando o prazer de ler.


O Marçal Aquino jornalista enxerga a realidade da mesma forma que o Marçal Aquino escritor?

Marçal Aquino –
O jornalista vê a rua; o escritor a interpreta com a imaginação.



Danilo Thomaz


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Do século XIX para as páginas da Internet



O jornal impresso foi usado de diversas formas. Serviu como instrumento político-social para a padronização das massas, promoção da opinião pública, explanação e disseminação de ideologias e por movimentos dissidentes, oposicionistas e de contracultura e para informar a população sobre os acontecimentos mais relevantes.
Com o avanço das tecnologias, tornou-se possível digitalizar integralmente o conteúdo desses jornais que fizeram e fazem parte da história da Humanidade. A grande vantagem é poder dinamizar o acesso a esses conteúdos, que antes só podiam ser encontrados em algumas raras bibliotecas e museus.

O programa The National Digital Newspaper, da ONG americana NET (National Endowment for the Humanities) é o que mais se destaca nesta área. Em parceria com a Biblioteca do Congresso – onde os jornais originais ficam armazenados –, o projeto tem o intuito de digitalizar e disponibilizar na Internet o maior número possível de antigos exemplares dos principais jornais dos EUA. Até agora já foram liberados todos os conteúdos disponíveis na Biblioteca entre os anos de 1836 a 1922.

Os arquivos podem ser acessados nesse link:
http://www.loc.gov/chroniclingamerica/availableNewspapers.html

Aqui no Brasil, um projeto similar é feito pela Biblioteca Nacional, onde grande parte do acervo de 15 antigos – e significativos - jornais já foi digitalizado. Dentre eles estão o Diário do Rio de Janeiro com publicações de 1808 a 1822, o Diário de Porto Alegre (1827 -1828), O Farol Paulistano e Compilador Mineiro.

O conteúdo desses e dos outros onze jornais podem ser acessados aqui: http://www.bn.br/site/pages/catalogos/periodicos/periodicosdigitalizados.htm

Com a disponibilização desses conteúdos na rede, jornalistas, comunicadores sociais e interessados sobre o assunto poderão ver e analisar a evolução do jornalismo impresso e todos os elementos que o compõe - o tipo de linguagem, o formato, a linha editorial e a diagramação. Ao tornar estas publicações disponíveis a qualquer cidadão com acesso a internet, as Instituições estão preservando um registro da História que não consta nos livros escolares, um registro estritamente ligados aos fatos e à vida cotidiana de cada época.


Foto retirada do site: http://www.iped.com.br/sie/uploads/6441.jpg



Lilian Sanches

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Um capítulo por dia: a história dos folhetins


Folhetim: 1 Seção literária de um periódico. 2 Fragmento de romance que aparece diariamente num jornal. (Fonte: Dicionário Michaelis)


"A arte de se fazer esperar, desejar". (Émile de Giardin)


O folhetim é um gênero literário que surgiu na 3ª fase do jornalismo (Jornalismo de mercadoria). Conhecido na França como Feuilleiton, era uma parte do jornal onde se publicavam variedades, como críticas literárias, resenhas teatrais, anúncios diversos e receitas culinárias, mas seu maior destaque foi com a publicação de romances em fragmentos.


O folhetim teve seu nome derivado das "folhas internas" do jornal. Tratava-se de um sub-produto, apresentado internamente, e nunca possuía um lugar de destaque no jornal. Melhor dizendo, compunham o "rodapé".

Em julho de 1836 Émile de Giardin, editor do jornal francês La Presse, começa a publicar em rodapés de jornais os romances seriados que vêm a ocupar todo o espaço do folhetim.

O romance espanhol Lazarillo de Tormes, de escritor anônimo, inaugura o gênero. Outros romances tiveram destaque na época como La vielle fille (A Menina Velha) de Honoré de Balzac, O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, e Os Mistérios de Paris, de Eugène Sue. O sucesso dessas histórias foi tão grande que tornou o folhetim o primeiro produto da indústria cultural nascente. Também foi o grande responsável pelo aumento das tiragens dos jornais, contribuindo para a sua modernização

Os folhetins tinham um público específico: o operariado. Como este público ainda estava imerso na cultura oral e não dominava muito bem a escrita, a linguagem era, portanto, de caráter popular, e as letras eram grandes e espaçadas.

Para atrair o público, as histórias eram normalmente tiradas das notícias do próprio jornal e envolviam assassinatos, seqüestros, estupros, e outros crimes que faziam parte da rotina de vida dos operários. Como o romance folhetinesco aparece após a Revolução Industrial, numa sociedade em processo de urbanização, este deveria agir como educador, ou seja, como veículo de valores da sociedade industrial urbana. Estavam impregnados de lições de moral. As histórias eram maniqueístas e as características ideais da sociedade se concentravam nos personagens bons e as negativas, que geravam a degradação social, personagens maus.


A narrativa fragmentada em episódios, a fim de facilitar a leitura das massas, e o suspense, que possuía um "gancho" para o próximo episódio, com a função de manter a curiosidade dos leitores, são características marcantes dos romances folhetinescos. Foi o próprio Giardin quem criou a expressão do "continua no próximo capítulo", frase que fechava todas as histórias de cada edição.


A história dos folhetins continua na próxima quarta-feira. Quando saberemos a história desse gênero no Brasil.
Na foto acima, Émile de Giardin. Foto retirada do site: www.1851.fr/images/arnaud/girardin.jpg


Ingrid Navarro