domingo, 26 de abril de 2009

Balzac e a introdução de jornalismo de mercado

Não é de hoje que muitos escritores atuam nas redações de diversos jornais e muitos jornalistas se lançam na carreira literária. Por diversos motivos: capacidade intelectual, necessidades financeiras ou até mesmo pela visibilidade trazida pelos meios de comunicação. Os motivos e razões são diversos e vão de acordo com o pano de fundo contemporâneo de cada um.
No entanto, essa relação não cria barreiras, acaba contaminando produtivamente ambos os ofícios (ver entrevista Marçal Aquino). Mas em nenhum outro escritor, essa relação causou tanto impacto como em Honoré de Balzac (1799-1850).

Balzac nasceu em Tours, França. Mudou-se para Paris com a família em 1814. Formou-se em direito em 1819. Estagiou por apenas três anos, revoltou-se com a influência que o dinheiro tinha no andamento da justiça e decidiu seguir carreira de escritor.

E o que o jornalismo tem a ver com isso? Bom, vamos entender como andava o mesmo naquela época.

Graças aos ideais da Revolução de 1789, a França tinha um papel fundamental na expansão de ideias por todo o mundo. Papel preponderante da imprensa. Porém, já no começo do século XIX, a imprensa começa a ser vista como mercadoria.

Frustrado em muitos sentidos da vida, sem dinheiro, mas dotado de uma boa capacidade de observação e uma veia sarcástica impressionante, Balzac, tido para muitos como o pai da Sociologia, nomeia sua obra de “Comédia Humana”, dividindo-a em três partes.

Na primeira parte é onde encontramos a obra mais trabalhada de Honoré. Nomeado de “Ilusões Perdidas”, o romance faz uma dura crítica ao jornalismo da época.

A obra trata dos esplendores e misérias de um poeta provinciano Lucien de Rubempré, que, em Paris, obtém sucesso somente quando entra para o jornalismo, mas cai em desgraça em boa

parte pelos próprios poderes ambivalentes da imprensa.

Segundo Rónai, que assina o a nota introdutória da primeira tradução do Brasil “A parte mais importante do livro é o segundo episódio, as vicissitudes de Luciano em Paris, onde ele passa por uma serie de ambientes. O [ambiente] dos jornalistas é aquele que leva Balzac a usar traços mais incisivos e as cores mais fortes, e lhe transforma as paginas numa sátira virulenta.” (Rónai, 1978, p.9). Em seu estudo sobre a obra, Bruno Gaundêncio relata que o romance focaliza o jornal em estado nascente, e traça uma analise financeira da indústria editorial, bem como do fenômeno da grande imprensa e das ficções de massas. “Além dos jornalistas, chamados de “negociantes de frases” e “espadachins das idéias e das reputações” há uma descrição rigorosa no livro de vários tipos de livreiros, contratos, tráficos de influência, sistemas de benesses e modos de oscilação dos preços do prestígio pessoal”, observa Bruno.

Balzac via o jornal como instrumento de vinganças pessoais, comprometimento político-partidário, interesses econômicos, amizades, etc. Em suma, de uma maneira maniqueísta, ele passa para ficção uma imprensa em pleno desenvolvimento que por estar aliada ao capital financeiro muitas vezes abandonava o interesse público. Algo que se tornou um costume e continua maltratando a ética na atual conjuntura do “jornalismo mercadoria”.



Texto e foto: Adriano Panisso