sexta-feira, 1 de maio de 2009

Ernesto Varela : O Repórter de Mentira, que fazia perguntas inesperadas a personagens de verdade

Perguntas incovenientes, personagens que figuravam e ainda figuram na cena política do Brasil, uma câmera, um microfone e um par de óculos vermelhos. Este era o cenário perfeito para um repórter audacioso que fazia perguntas que todos queriam fazer mas não tinham a oportunidade - e se a tivesse, talvez, não teriam a coragem para fazê-la. Ernesto Varela foi um personagem criado pelo jornalista e engenheiro Marcelo Tristão Athayde de Souza, o Marcelo Tas.

No início dos anos 80 um grupo de jovens se reunia toda a semana para brincar com o maior “boom” tecnológico da época: a câmera de vídeo. Fazer vídeos caseiros era a febre entre a juventude, similar ao que acontece hoje com a internet. Essa brincadeira reunia jovens universitários das mais diversas áreas como Psicologia, Cinema, Engenharia e Jornalismo. A brincadeira ficou grande e ganhou nome “Olhar Eletrônico”, e ficou ainda mais importante quando a turma foi convidada pelo apresentador Goulart de Andrade para trabalhar na televisão, fazendo pequenas inserções “jornalísticas” na programação, durante as madrugadas.

“ Na olhar eletrônico todos gostavam de trabalhar atrás das câmeras e não na frente delas” disse Marcelo Tas . "Todos se revezavam para fazer as reportagens”.

Certa vez, foi decidido que Marcelo Tas iria fazer uma reportagem acompanhado de um jovem e desajeitado cinegrafista: Fernando Meireles. Com criatividade decidiram que na produção iriam sugerir um meio revolucionário para acabar com a dívida externa brasileira(que nos anos 80 junto com a inflação era o grande fantasma que assombrava os brasileiros). A reportagem se deu em um terreno baldio em plena Avenida Paulista. Eles calcularam quantas bananeiras poderiam ser plantadas ali e por quanto poderiam ser vendidas. A sugestão: derrubar todos os prédios do maior centro econômico do país para se plantar bananas e vendê-las como pagamento da tal dívida.

“A Criação do Varela foi um meio para disfarçar a timidez em frente a máquina que acaba com toda a espontaneidade: a câmera”, conta Tas.


Varela, acompanhado de seu inseparável câmera o Valdeci (Fernando Meireles), cobriu fatos importantes como a Copa de 86 e a campanha das Diretas Já, além de ser a primeira equipe brasileira a ser autorizada por Fidel Castro a filmar livremente em Cuba. Também entrevistou pessoas ilustres como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-governadores Franco Montoro, Orestes Quércia e Paulo Maluf, além do corredor Nélson Piquet.

A entrevista mais polêmica foi com Nabi Abi Chedid (vide vídeo) na época presidente da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, e homem forte na política. Na entrevista Chedid chamou Varela de mau brasileiro que fazia perguntas cretinas. Varela o deixou falando sozinho ao final da reportagem.

Ernesto Varela pode ser considerado o primeiro CQC , pois fazia um jornalismo sério, de serviço público, que abordava interesses diretos do povo com um toque de humor e ironia. Um jornalismo sério de conteúdo, disfarçado em um repórter de mentira com talento de verdade.
“Só percebi que não havia mais volta, que o personagem era realmente importante quando mandei meus documentos para o Congresso Nacional para retirar o meu crachá e depois de alguns dias me enviaram o crachá como o nome: ERNESTO VARELA” afirma Tas.


Guilherme Lorenzetti

Link:

http://www.youtube.com/watch?v=ouD3VwhOZIw&NR=1 (vídeo Ernesto Varela/ Nabi Abi Chedid)