terça-feira, 12 de maio de 2009

“A mudança do jornalismo, da política, da história do Brasil está na internet”


“Eu gosto de olhar para o futuro”. Foi assim que o jornalista Augusto Nunes definiu sua entrada na internet, mídia que o tem interessado muito. “A internet é a nova rua. Quero fazer parte dela”.

Seu ingresso na internet se dá no portal de VEJA, onde escreve uma coluna que leva o seu nome (http://www.veja.com.br/augustonunes). Nela, o jornalista analisa os fatos da política, resgata histórias do Brasil e trata com humor refinado frases e figuras do Brasil contemporâneo. Mas não pretende restringir-se à política. “Com o tempo pretendo diversificar a coluna, tratar de outros assuntos que me interessam”.

Augusto Nunes, que foi redator-chefe de VEJA, iniciou a carreira jornalística como revisor do extinto Diário da Noite, dos Diários Associados, conglomerado de mídia de Assis Chateaubriand. Dirigiu a revista ÉPOCA, além dos jornais O Estado de São Paulo e Zero Hora.

Como escritor, Augusto Nunes escreveu, entre outros, os livros “Minha Razão de Viver”, biografia do jornalista Samuel Wainer, e “Esperança Estilhaçada”, seu ponto-de-vista sobre o caso do mensalão. No momento, prepara a biografia do presidente Jânio Quadros.
Em entrevista concedida ao METAJORNALISMO, o jornalista fala da criação de sua coluna no portal VEJA, de suas expectativas com a internet e sobre políticos brasileiros.

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Como veio o convite para voltar à VEJA?

Augusto Nunes
- Fui me interessando pela internet e queria fazer algo novo, dentro dela. E buscava uma empresa estável dentro do meio, como a Abril. Liguei para o Eurípedes Alcântara, meu amigo, editor de VEJA, dizendo que queria voltar. Mas não como redator-chefe nem diretor de redação, porque isso eu já ocupei esse tipo de função. Queria fazer algo dentro da internet.

O que mudou na revista ao longo desses 22 anos em que você esteve ausente dela?

Augusto Nunes
- A redação de VEJA, hoje, é mais silenciosa, como todas as outras. Algumas pessoas do meio criticam o fato, mas isso é fruto de inovações tecnológicas. Nos anos 80, quando trabalhei lá, nós não tínhamos ramal, e-mail, nada do tipo, para se comunicar internamente.
Por outro lado, não só a de VEJA, mas as redações em geral teem sofrido de um grande mal comum: que é o de ficar dentro das redações, entrevistar por telefone, e-mail. Eu não gosto disso. Eu gosto de entrevistar e ser entrevistado cara a cara, olhar nos olhos, porque eles não mentem. Quero ver o olhar, pois, como diria Tom Jobim, “Nem Marlon Brando me engana no olhar”.

Como foi a concepção da coluna?

Augusto Nunes
- Queria algo parecido com a minha coluna Sete Dias, do Jornal do Brasil, que eu gostava muito de fazer. Mas queria também algo diversificado. Então, fui criando várias sessões, algumas baseadas em coisas que eu já havia feito no passado. O “Baú de Presidentes”, por exemplo, conta algumas curiosidades e fatos desconhecidos sobre os presidentes brasileiros. Tive contato com vários deles, conheci o lado humano – e cômico – dessas figuras. O Brasil só teve presidentes loucos.

O Jânio Quadros foi um dos que conheci. Ele estava bêbado quando o entrevistei para a VEJA, no início dos anos 80. Ele e eu – o que revelei há pouco tempo. Mas ele bebeu muito mais do que eu – e ficou menos bêbado Estou escrevendo sua biografia, um projeto que já tem dez anos e estará pronto em 2010.

Todos eram loucos? Inclusive o FHC?

Augusto Nunes
- O FHC também. O fato de ele ter entrado para a política aos 48 anos, após uma vida acadêmica, como sociólogo, é uma prova disso. Ele tem pinta de imperador, de descendente da família real, nasceu para governar. De todos, porém, é o mais equilibrado. Além de ser um homem erudito, interessado por cultura. Ao contrário do presidente Lula, que não frequenta teatros nem nada e teve trinta anos para se instruir e não o fez.

Diante do desprezo do presidente Lula pela cultura e pelo conhecimento, como se justifica a defesa que muitos acadêmicos, que a elite intelectual, faz dele?
Augusto Nunes - Isso é uma hipocrisia da parte deles. Por deterem o conhecimento, ao defenderem um presidente que não se importa com isso, agem com o elitismo que tanto criticam. Mostram-se desinteressados pela disseminação da cultura e da educação.

Como foi a entrevista com o deputado Fernando Gabeira para a sua coluna? Não acha que o fato de ter utilizado a cota de passagens aéreas do Congresso com a filha prejudica a imagem dele?
Augusto Nunes - Gostei muito da entrevista com o Gabeira. Sua imagem não mudará com isso. Ele errou, mas reconheceu o que fez e se desculpou. E é como ele mesmo disse “O político ético erra, admite e segue em frente”. É isso mesmo.

De que maneira a internet tem te surpreendido?

Augusto Nunes - Pela instantaneidade. Você publica um texto e minutos depois já tem a resposta dele. E a repercussão da coluna também. Nos três primeiros dias, tivemos cerca de 30.000 acessos. É um bom sinal.

O que você espera com a coluna?

Augusto Nunes - Com o tempo, a coluna irá se diversificar. Não vou falar apenas de política, mesmo porque eu não sou um jornalista político. Acabei lidando com política por conta dos cargos que ocupei nas redações e da convivência com figuras do meio político. E escolhi esse tema para a coluna ter mais visibilidade em seu começo.

Quero também falar de cinema, futebol, que são coisas que eu gosto. Acredito muito no poder da internet. A internet é a nova rua. A mudança do jornalismo, da política, da história do Brasil está nela. Um exemplo disso foi a campanha do Barack Obama, nos Estados Unidos, que se utilizou da internet para receber doações e fazer divulgações, e a do deputado Fernando Gabeira, em sua campanha para prefeito do Rio de Janeiro. Nela, o Gabeira usou muito da internet. Ele é um homem inteligente, moderno desde 1994 mantém um site e, há alguns anos, um blog. Eu quero fazer parte disso.


Danilo Thomaz
Foto: Portal da Imprensa.