terça-feira, 19 de maio de 2009

ERRATA

Ao contrário do que foi publicado no dia 12 de maio de 2009, o jornalista Augusto Nunes trabalhou como redator-chefe e não como diretor de redação da revista VEJA. O erro já foi corrigido no próprio texto.

Peço desculpas.

Obrigado,

Danilo Thomaz
Editor-chefe

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Uma Breve História da Nona Arte











A disputa por leitores é um fato conhecido por todos que se envolvem com os jornais, e, muitas vezes, essa vontade de aumentar as vendas faz com que as pessoas sejam presenteadas com algumas inovações. Nesse cenário, foram criadas as histórias em quadrinhos, também conhecidas como a "nona arte". Apesar de hoje algumas pessoas não os levarem a sério, os quadrinhos foram responsáveis por um enorme aumento nas tiragens do final do século XIX.


Os primeiros quadrinhos que deram cor às páginas dos jornais eram feitos a partir de personagens cômicos (crianças travessas, animais ou adultos estranhos). Foi ai que apareceu a expressão americana "comics". Oficialmente, o personagem pioneiro foi "the Yellow Kid" (na imagem logo abaixo). Criado em 1845, por Richard Outcault, o menino amarelo nada mais era do que uma charge com os textos escritos em suas roupas.



Por muitos anos os "comics" dominaram as publicações, mas com a quebra da bolsa e a grande depressão que assolava os E.U.A foram criados os personagens heróicos. O povo precisava de esperança e a encontraram em desenhos realistas de heróis que enfrentavam as dificuldades e venciam no final da história. Nessa época, onde as caricaturas eram deixadas de lado, surgiu o detetive Dick Tracy e o gênero policial encheu os quadrinhos de brutalidade.

No final da década de 30, Adolfo Aizen foi o responsável por editar um suplemento infantil no jornal "A Nação", que trazia compilações das "comics" americanas. Mais tarde, o jornal "O Globo" também lançou seu suplemento voltado para o público jovem e lançou a revista "O Gibi", que popularizou e rebatizou os quadrinhos no Brasil.

Nos anos 40, com a ameaça da II guerra mundial, os heróis passaram a ter poderes extraordinários e se transformaram em super-heróis. O primeiro a nascer com esse título foi o "Superman", seguido de centenas de outros justiceiros poderosos. Em 1941 foi criado o "Capitão América" com o objetivo de incentivar a juventude americana a lutar na guerra. Neste mesmo ano, os quadrinhos deram um salto qualitativo com a criação da obra-prima de Will Eisner, "The Spirit", que fazia uso primordioso de luz e sombra, se inspirava em técnicas expressionistas e tinha histórias que pareciam retiradas de contos literários.
Alguns anos depois do final da guerra, as histórias de terror cairam no gosto dos jovens. Publicações como "Contos da Cripta" dividiam opiniões. A sociedade conservadora, alegado a preservação da moral e dos bons costumes passou a perseguir e discriminar esse tipo de quadrinhos, fazendo com que fosse criado um código de ética como o que já existia no cinema. Apesar da perseguição da sociedade, essa época foi marcada pela criação de histórias adultas com personagens infantis vivendo em um mundo cheio de neuroses e inseguranças, como o americano "Peanuts", conhecido no Brasil como Charlie Brown, e a argentina "Mafalda".

Ainda na década de 50, aparece no Brasil o que iria se tornar o maior exemplo de sucesso nos quadrinhos nacionais: a "Turma da Mônica", criada por mauricio de Souza, que completa cinquenta anos agora, em 2009. As primeiras histórias seguiam o estilo de histórias com contéudo adulto e introspectivo, com o cachorro "Bidu" falando monólogos existencias com sua companheira "Dona Pedra". A personagem que se tornou protagonistas das histórias de Mauricio só foi aparecer pela primeira vez em 1963. Mônica foi inspirada na filha do cartunista e sua criação fez as histórias seguirem por outro caminho, visando agradar o público infantil.

Com o surgimento da contra-cultura, os quadrinhos passaram a adotar uma postura mais politicamente incorreta, abusando do sexo, drogas e rock'n'roll e se tornando parte do movimento underground. Personagens com "Fritz, The Cat" mostravam o lado feio da sociedade personificada em animais e rompia com a visão de que histórias de bichinhos são bobas e infantis. No Brasil, os quadrinhos "underground" ganharam muita força na década de 80 com a revista "Chiclete com Banana". Alguns de seus colaboradores, como Angeli, Laerte e Glauco, ainda estão na ativa publicando seus trabalhos em grandes jornais do pais, e influenciando muitos artistas da nova geração.



No quadrinho acima, a tira de Angeli. À direita, no início da matéria, capa da revista em quadrinhos "The Return of Autumn Mews", publicada em 1949.



Gustavo Chiodetto

quinta-feira, 14 de maio de 2009





“Os jornais, contudo, morrerão, sinto dizer-lhes isso. Tal como existem hoje, tudo indica que morrerão. Só não me arrisco a dizer quando.
Que viva, pois, o jornalismo! (...) ”


Ricardo Noblat em “A arte de fazer um jornal diário”.





















Nota: O A.I.5 (Ato Inconstitucional número 5) instaurou a censura prévia no Brasil durante a ditadura militar.
Yasmin Gomes


terça-feira, 12 de maio de 2009

“A mudança do jornalismo, da política, da história do Brasil está na internet”


“Eu gosto de olhar para o futuro”. Foi assim que o jornalista Augusto Nunes definiu sua entrada na internet, mídia que o tem interessado muito. “A internet é a nova rua. Quero fazer parte dela”.

Seu ingresso na internet se dá no portal de VEJA, onde escreve uma coluna que leva o seu nome (http://www.veja.com.br/augustonunes). Nela, o jornalista analisa os fatos da política, resgata histórias do Brasil e trata com humor refinado frases e figuras do Brasil contemporâneo. Mas não pretende restringir-se à política. “Com o tempo pretendo diversificar a coluna, tratar de outros assuntos que me interessam”.

Augusto Nunes, que foi redator-chefe de VEJA, iniciou a carreira jornalística como revisor do extinto Diário da Noite, dos Diários Associados, conglomerado de mídia de Assis Chateaubriand. Dirigiu a revista ÉPOCA, além dos jornais O Estado de São Paulo e Zero Hora.

Como escritor, Augusto Nunes escreveu, entre outros, os livros “Minha Razão de Viver”, biografia do jornalista Samuel Wainer, e “Esperança Estilhaçada”, seu ponto-de-vista sobre o caso do mensalão. No momento, prepara a biografia do presidente Jânio Quadros.
Em entrevista concedida ao METAJORNALISMO, o jornalista fala da criação de sua coluna no portal VEJA, de suas expectativas com a internet e sobre políticos brasileiros.

***
Como veio o convite para voltar à VEJA?

Augusto Nunes
- Fui me interessando pela internet e queria fazer algo novo, dentro dela. E buscava uma empresa estável dentro do meio, como a Abril. Liguei para o Eurípedes Alcântara, meu amigo, editor de VEJA, dizendo que queria voltar. Mas não como redator-chefe nem diretor de redação, porque isso eu já ocupei esse tipo de função. Queria fazer algo dentro da internet.

O que mudou na revista ao longo desses 22 anos em que você esteve ausente dela?

Augusto Nunes
- A redação de VEJA, hoje, é mais silenciosa, como todas as outras. Algumas pessoas do meio criticam o fato, mas isso é fruto de inovações tecnológicas. Nos anos 80, quando trabalhei lá, nós não tínhamos ramal, e-mail, nada do tipo, para se comunicar internamente.
Por outro lado, não só a de VEJA, mas as redações em geral teem sofrido de um grande mal comum: que é o de ficar dentro das redações, entrevistar por telefone, e-mail. Eu não gosto disso. Eu gosto de entrevistar e ser entrevistado cara a cara, olhar nos olhos, porque eles não mentem. Quero ver o olhar, pois, como diria Tom Jobim, “Nem Marlon Brando me engana no olhar”.

Como foi a concepção da coluna?

Augusto Nunes
- Queria algo parecido com a minha coluna Sete Dias, do Jornal do Brasil, que eu gostava muito de fazer. Mas queria também algo diversificado. Então, fui criando várias sessões, algumas baseadas em coisas que eu já havia feito no passado. O “Baú de Presidentes”, por exemplo, conta algumas curiosidades e fatos desconhecidos sobre os presidentes brasileiros. Tive contato com vários deles, conheci o lado humano – e cômico – dessas figuras. O Brasil só teve presidentes loucos.

O Jânio Quadros foi um dos que conheci. Ele estava bêbado quando o entrevistei para a VEJA, no início dos anos 80. Ele e eu – o que revelei há pouco tempo. Mas ele bebeu muito mais do que eu – e ficou menos bêbado Estou escrevendo sua biografia, um projeto que já tem dez anos e estará pronto em 2010.

Todos eram loucos? Inclusive o FHC?

Augusto Nunes
- O FHC também. O fato de ele ter entrado para a política aos 48 anos, após uma vida acadêmica, como sociólogo, é uma prova disso. Ele tem pinta de imperador, de descendente da família real, nasceu para governar. De todos, porém, é o mais equilibrado. Além de ser um homem erudito, interessado por cultura. Ao contrário do presidente Lula, que não frequenta teatros nem nada e teve trinta anos para se instruir e não o fez.

Diante do desprezo do presidente Lula pela cultura e pelo conhecimento, como se justifica a defesa que muitos acadêmicos, que a elite intelectual, faz dele?
Augusto Nunes - Isso é uma hipocrisia da parte deles. Por deterem o conhecimento, ao defenderem um presidente que não se importa com isso, agem com o elitismo que tanto criticam. Mostram-se desinteressados pela disseminação da cultura e da educação.

Como foi a entrevista com o deputado Fernando Gabeira para a sua coluna? Não acha que o fato de ter utilizado a cota de passagens aéreas do Congresso com a filha prejudica a imagem dele?
Augusto Nunes - Gostei muito da entrevista com o Gabeira. Sua imagem não mudará com isso. Ele errou, mas reconheceu o que fez e se desculpou. E é como ele mesmo disse “O político ético erra, admite e segue em frente”. É isso mesmo.

De que maneira a internet tem te surpreendido?

Augusto Nunes - Pela instantaneidade. Você publica um texto e minutos depois já tem a resposta dele. E a repercussão da coluna também. Nos três primeiros dias, tivemos cerca de 30.000 acessos. É um bom sinal.

O que você espera com a coluna?

Augusto Nunes - Com o tempo, a coluna irá se diversificar. Não vou falar apenas de política, mesmo porque eu não sou um jornalista político. Acabei lidando com política por conta dos cargos que ocupei nas redações e da convivência com figuras do meio político. E escolhi esse tema para a coluna ter mais visibilidade em seu começo.

Quero também falar de cinema, futebol, que são coisas que eu gosto. Acredito muito no poder da internet. A internet é a nova rua. A mudança do jornalismo, da política, da história do Brasil está nela. Um exemplo disso foi a campanha do Barack Obama, nos Estados Unidos, que se utilizou da internet para receber doações e fazer divulgações, e a do deputado Fernando Gabeira, em sua campanha para prefeito do Rio de Janeiro. Nela, o Gabeira usou muito da internet. Ele é um homem inteligente, moderno desde 1994 mantém um site e, há alguns anos, um blog. Eu quero fazer parte disso.


Danilo Thomaz
Foto: Portal da Imprensa.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Edgar Leuenroth e a A Plebe brasileira


Na década de 1910, com a já instaurada Republica Velha, o Brasil passava por problemas sociais, principalmente com o alto custo de vida, que se agravou com a Primeira Guerra Mundial. A situação em que o país se encontrava repercutia nas relações trabalhistas. As longas jornadas de trabalho, salários baixos, desemprego, exploração do trabalho infantil e a desvalorização da mão-de-obra feminina, foram fatores importantes que culminaram na Greve Geral de 1917.

È em meio a esse furor que nasce o jornal A Plebe, fundado pelo jornalista Edgard Leuenroth (1881-1968), que sempre esteve envolvido no desenvolvimento de diversos jornais libertários. O conteúdo do jornal tinha como base a discussão sobre a luta e resistência libertária no Brasil, a defesa dos princípios anarquistas como doutrina social que preconizava uma sociedade livre, bem como a organização sindical contra a opressão do Estado, e era publicado mensalmente.

Leuenroth usava o jornal não só para apoiar o movimento grevista, como também assumiu para si o papel de articulador da paralisação. Era considerado pela polícia o mentor “psico-intelectual” da greve, motivo pelo qual foi preso e processado. Sobre a prisão escreveu:

"Muito tempo ainda não havia decorrido, quando se verificou a minha prisão. Iniciou-se então minha peregrinação pelos postos policiais, com o fim de serem burlados os "habeas corpus" requeridos quando fui transferido para a Cadeia Publica, hoje Casa de Detenção. Após seis meses, fui levado ao Tribunal do Júri, para ser julgado pela estúpida acusação de ter sido o autor psíquico-intelectual da greve geral de julho de 1917. Fui absolvido por unanimidade de votos, após dois adiamentos, com o intuito de impedir de ter também como defensor, ao lado do dr. Marry Junior, o grande criminalista dr. Evaristo de Morais. Passado algum tempo, divulgou-se a notícia de deportação de alguns militantes proletários para outros Estados." (Edgard Leuenroth)

Por defender a causa operária, Edgard passou a colecionar desafetos da direita burguesa. A redação e gráfica do jornal seriam depredadas por estudantes da Faculdade de Direito de São Paulo revoltados com suas críticas, diante dos policiais que nada fizeram para impedir.

Outro fato marcante envolveu o nome do periódico, durante um espetáculo para arrecadar fundos para o jornal, quando o sapateiro operário Ricardo Cipolla, fundador do Centro Libertário Terra Livre foi morto a tiros no palco do Salão Leal Oberdan por Indalécio Iglesias, um espanhol que andava entre os anarquistas e queria ser policial.

Sua publicação foi interrompida em julho de 1924, ressurgindo apenas em fevereiro de 1927. O jornal teve sua ultima publicação em 1949.

Edgar Leuenroth permaneceu ativo em sua militância anarquista até falecer, aos 87 anos, por conta de um câncer hepático. Seu legado permanece vivo e ele, até hoje, é considerado um dos grandes nomes do jornalismo libertário brasileiro.


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Ernesto Varela : O Repórter de Mentira, que fazia perguntas inesperadas a personagens de verdade

Perguntas incovenientes, personagens que figuravam e ainda figuram na cena política do Brasil, uma câmera, um microfone e um par de óculos vermelhos. Este era o cenário perfeito para um repórter audacioso que fazia perguntas que todos queriam fazer mas não tinham a oportunidade - e se a tivesse, talvez, não teriam a coragem para fazê-la. Ernesto Varela foi um personagem criado pelo jornalista e engenheiro Marcelo Tristão Athayde de Souza, o Marcelo Tas.

No início dos anos 80 um grupo de jovens se reunia toda a semana para brincar com o maior “boom” tecnológico da época: a câmera de vídeo. Fazer vídeos caseiros era a febre entre a juventude, similar ao que acontece hoje com a internet. Essa brincadeira reunia jovens universitários das mais diversas áreas como Psicologia, Cinema, Engenharia e Jornalismo. A brincadeira ficou grande e ganhou nome “Olhar Eletrônico”, e ficou ainda mais importante quando a turma foi convidada pelo apresentador Goulart de Andrade para trabalhar na televisão, fazendo pequenas inserções “jornalísticas” na programação, durante as madrugadas.

“ Na olhar eletrônico todos gostavam de trabalhar atrás das câmeras e não na frente delas” disse Marcelo Tas . "Todos se revezavam para fazer as reportagens”.

Certa vez, foi decidido que Marcelo Tas iria fazer uma reportagem acompanhado de um jovem e desajeitado cinegrafista: Fernando Meireles. Com criatividade decidiram que na produção iriam sugerir um meio revolucionário para acabar com a dívida externa brasileira(que nos anos 80 junto com a inflação era o grande fantasma que assombrava os brasileiros). A reportagem se deu em um terreno baldio em plena Avenida Paulista. Eles calcularam quantas bananeiras poderiam ser plantadas ali e por quanto poderiam ser vendidas. A sugestão: derrubar todos os prédios do maior centro econômico do país para se plantar bananas e vendê-las como pagamento da tal dívida.

“A Criação do Varela foi um meio para disfarçar a timidez em frente a máquina que acaba com toda a espontaneidade: a câmera”, conta Tas.


Varela, acompanhado de seu inseparável câmera o Valdeci (Fernando Meireles), cobriu fatos importantes como a Copa de 86 e a campanha das Diretas Já, além de ser a primeira equipe brasileira a ser autorizada por Fidel Castro a filmar livremente em Cuba. Também entrevistou pessoas ilustres como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-governadores Franco Montoro, Orestes Quércia e Paulo Maluf, além do corredor Nélson Piquet.

A entrevista mais polêmica foi com Nabi Abi Chedid (vide vídeo) na época presidente da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, e homem forte na política. Na entrevista Chedid chamou Varela de mau brasileiro que fazia perguntas cretinas. Varela o deixou falando sozinho ao final da reportagem.

Ernesto Varela pode ser considerado o primeiro CQC , pois fazia um jornalismo sério, de serviço público, que abordava interesses diretos do povo com um toque de humor e ironia. Um jornalismo sério de conteúdo, disfarçado em um repórter de mentira com talento de verdade.
“Só percebi que não havia mais volta, que o personagem era realmente importante quando mandei meus documentos para o Congresso Nacional para retirar o meu crachá e depois de alguns dias me enviaram o crachá como o nome: ERNESTO VARELA” afirma Tas.


Guilherme Lorenzetti

Link:

http://www.youtube.com/watch?v=ouD3VwhOZIw&NR=1 (vídeo Ernesto Varela/ Nabi Abi Chedid)