domingo, 7 de junho de 2009

2.





O Jornal




Na avenida Atlântica, sem os tiros e os cassinos Atlântico e do Copacabana Palace, Wainer começou a ter certeza de que deveria ter o seu próprio jornal.



Poucas semanas depois, numa conversa com Vargas, Samuel disse a ele que era (foi) possível vencer as eleições sem qualquer apoio da imprensa, mas seria impossível governar com todos os veículos em oposição. Getúlio propôs que Samuel tivesse seu próprio jornal. E o jornalista, que desde o passeio pela avenida Atlântica planejava e ansiava por isso, respondeu:



“Em 45 dias, dou um jornal ao senhor”, disse Samuel. “O Última Hora começava a nascer, e eu a encontrar minha razão de viver.”.



Segundo o jornalista Augusto Nunes, “Samuel queria um jornal, queria o poder. Queria namorar mulheres bonitas, frequentar altas rodas, calçar mocassins, tudo o que sua origem pobre e judia não poderia lhe dar. Ele era um líder, ótimo montador de jornal e coordenador do mesmo, algo que se vê muito dentro da imprensa. Por vezes, um diretor de redação pode não ter o melhor texto, mas coordena a redação como ninguém, o que era o caso de Samuel. Ele foi genial na criação do seu jornal. O Última Hora foi o jornal certo na hora certa.”




Samuel na gráfica do Última Hora


Lançado com o slogan “Um jornal a serviço do povo”, o Última Hora era um vespertino eminentemente getulista. Samuel sabia, porém, que não bastaria que o seu jornal desse apoio irrestrito ao presidente sem ser um sucesso editorial. Para atrair o grande público, procurou fazer o que os grandes jornais da época não faziam: prestou serviços aos bairros pobres e à população carente, colocou manchetes sobre futebol na primeira página (até então só jornais sobre esportes faziam isso), fazia concursos e distribuía prêmios. Além disso, aumentou o salário dos jornalistas e vendeu o jornal a preço muito baixo – o que irritou ainda mais seus concorrentes. Em seu quadro de funcionários, estiveram, dentre outros, Rubem Braga, Paulo Francis, Jorge Amado e Nelson Rodrigues, com as suas histórias da “vida como ela é”, um dos grandes sucessos do jornal a partir de meados dos anos 50.


No início da década, porém, fora a coluna “O dia do presidente”, criada por Wainer e assinada pelo jornalista Luis Costa a principal responsável pelas vendas do jornal nas bancas.


Enquanto a coluna de Nelson contava histórias do cotidiano funesto, histérico e sanguinolento do subúrbio da Zona Norte carioca, a de Luis Costa falava sobre o dia-dia do presidente da República. Em pouco tempo, tornou-se uma “instituição nacional”, conforme dissera o jornal Correio da Manhã (o jornal preferido das elites cariocas, que deixou de circular em 1974). Além de ajudar a estabelecer o Última Hora no mercado jornalístico brasileiro, a coluna obrigou a imprensa a se render à popularidade de Vargas e foi copiada por outros jornais. O vespertino de Wainer, porém, continuava sendo o único veículo aliado ao presidente. E, segundo o jornalista Augusto Nunes, “o primeiro e único jornal popular do Brasil. E sem populismo, como fazia o Notícias Populares, com a história do bebê-diabo e coisas do tipo. Era um grande jornal”.



O Última Hora traria a Samuel o poder de influência e o prestígio desejados nos tempos de garoto pobre, filho de imigrantes judeus, do Bom Retiro e de repórter desprestigiado de O Jornal de Assis Chateaubriand. Traria também todas as forças para destruir essas conquistas, lideradas por um inimigo que desejava destruí-lo há algum tempo: Carlos Lacerda.


“Quando o Última Hora nasceu, o ódio de Lacerda por mim exacerbou-se”, conta Wainer.


Carlos Lacerda

Um comentário:

  1. OlÁS!!!
    Essa equipe é grande, de peso. E o blog não poderia ter um conteúdo que não fosse assim. Fico feliz com a qualidade das pautas e dos textos. Vcs exploram a ferramenta, mas mais do que isso, as pautas que trazem têm muito a ver com o grupo: meio flaneur, meio blasé, meio polêmico, enfim...
    Espero que não percam esse molho especial.
    bjs, marli

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